As mulheres como o calcanhar de aquiles de Jonas Savimbi

Mulheres de Savimbi

A Unita, na pessoa do seu presidente, JMS, demonstrou com uma estrutura de poder, marcada por nuances tradicionais e por querelas palacianas, pôde colocar a mulher nas situações mais extremas e caricatas. Para a questão em análise, não se trata de um conflito entre a instituição da família tradicional, assente na poligamia, e a moderna, que postula pela família monogâmica com os valores a si adstritos. Trata-se do uso, do abuso e da coisificação da mulher, em consequência de um poder autocrático que  por vezes, e não foram poucas, mostrou ter perdido o controlo da situação. 

As mulheres de Jonas Savimbi  dividem-se em aquelas que mais amou - e assumiu como “primeira-dama”, mas que também, por razões que  se desconhecem mais odiou -, as amantes, que teve filhos como algumas delas, e outras, fruto de relações fortuitas, cujo segredos elas guardam a sete chaves.

O gosto desmesurado pelas mulheres, provavelmente ter-se-á incrementado  em JMS aquando da sua passagem pelo Instituto Currie do Dôndi, dado os problemas que, na infância, foi criando em Lopitanga, no Andulo, aldeia onde nasceu. Foi no Instituto Currie do Dôndi onde se fez consciente da relação que poderia existir entre o poder e o sexo.

A primeira mulher com a qual JMS teve uma relação aparentemente normal,   foi Estela Maungo, (uma sul-africana, pouco falada e quase desconhecida) de cuja relação nasceram  Nanike Sakaita (actualmente a viver em Acra com o marido Ganês), Helena Ndumbu Sakaita (que vive em Ile-de-France) e Rosa Chikumbu Malheiro (que reside nos Estados Unidos da América). Destas filhas, a destacar apenas Nanike pelo  desentendimento com o pai por discordar do seu relacionamento  com Sandra Kalufele.

Vinona Savimbi foi a primeira mulher assumida por JMS como primeira-dama, sobretudo na véspera da independência e nos anos que se seguiram. Mulher discreta, pouco ou quase nada reza sobe ela para além do facto de, na “Longa Marcha”, ter manifestado um poder premonitor, ao prever num sonho, um grande ataque a ser perpetrado pelas forças do Mpla e pelos Cubanos, na região de Cassingo, no Sul de Angola. Também se fala dela pelos conhecimentos que detinha sobre a flora, sobretudo para diferenciar os cogumelos comestíveis dos venenosos. Conta-se que, na “Longa Marcha”, os soldados que colhiam cogumelos sem a consultar acabavam por enlouquecer para, finalmente, perecerem envenenados.

O que Vinona Savimbi não previu, na altura, foi o fim que a esperava  assim como a utilização, pelo Mpla, dos seus filhos contra o pai. Vinona teve  três filhos com JMS, dois dos quais se tornaram famosos pelo facto de o Mpla os ter utilizado para justificar, aos olhos do país e do mundo, a “necessária eliminação física de Jonas Savimbi”. Estes filhos são Araújo Domingos Sakaita, que foi coagido a ir a Luanda, em 1999, a partir de Lomé Togo (vive em Luanda e padece de perturbações mentais) e Anacleto Kajita Ululi Sakaita (vive actualmente em Luanda) que, em 2000, apenas com quinze anos foi obrigado pela Segurança do Mpla (Serviços de Inteligência Externa) a seguir as peugadas do irmão a partir de Abijan. Muito associado aos filhos de Vinona está um outro filho de JMS, Eloi Sassandaly Sakaita, por ter driblado um dos agente do SIE, Casimiro da Silva, afecto à embaixada da Nigéria que, às ordens do seu chefe sediado em Lomé, General Miala, pretendia também levá-lo a Luanda.

Uma questão que à partida se pode levantar, e que demonstra que casa arrumada é necessária se quisermos meter ordem na rua, é o porquê do interesse de Miala pelos filhos de Vinona,  ao ponto de ele ter disponibilizado, para os dois, o quarto das próprias filhas. A razão é óbvia: o Mpla, na pessoa de Miala, no seu plano para convencer a opinião pública nacional e internacional de que, a eliminação física de JMS era um mal necessário, até exigido pelos próprios filhos, apenas poderia contar nesta cartada com os rebentos de Vinona. Não se sabe ao certo quais foram as divergências entre Vinona e Jonas Malheiro Savimbi embora se suspeite de este ter estado por detrás da sua morte  em 1984.  As opiniões dividem-se entre os  que afirmam que ela se suicidou, os que dizem ter morrido num incêndio que devastou a sua cubata e os que dizem que, acusada de feitiçaria,  sucumbira na queima das bruxas. Fosse como fosse, isso foi o suficiente para o Mpla meter na boca de Araújo Sakaita algo ignóbil que se podia vir de uma política suja, culturalmente anacrónica, própria da liderança de José Eduardo dos Santos. “A Unita é Jonas Savimbi” e “sem Savimbi não haverá guerra em Angola” foram as palavras de Araújo Sakaita na televisão popular de Angola, sob o espanto e desagrado dos angolanos, inclusivamente de alguns afectos ao Mpla, ao que JES retorquiu: se o filho defende a morte do pai quem somos nós para dizer que não.

Puro cinismo gerado nas ruelas dos musseques.

                  Muito antes da morte de Vinona, já haviam surgido no seio da Unita alguns sinais de lutas pelo poder, algo legítimo e normal em qualquer organização política não fosse o facto de estas terem tido, pelo meio, problemas de mulheres. Foi o que sucedeu em 1981 quando, pela primeira vez, se falou duma intentona para destituir Jonas Savimbi, cujos cabecilhas eram Valdemar Pires Chindondo, Ornelas Sangumba e Samuel Chiwale. Os contornos dessa acusação viriam, no entanto, a ser questionados pelo facto de, logo após o assassinato de Valdemar Pires Chindondo, a sua esposa Alda Juliana Paulo Sachiambo “Aninhas” e o filho passarem a fazer parte do clã Savimbi. Foi também sintomático o facto de Aninhas ter sido eleita como Presidente da Organização Feminina da Unita (Lima) em 1984 ano em que morreu Vinona Savimbi.

Em 2007, com as sanções da ONU para com a Unita a vigorarem, o porta-voz da embaixada de Angola em Português (José Ribeiro) veio a terreiro, quase fora de si, dizer que as sanções não estavam sendo cumpridas pela Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) por terem emitido um passaporte e dado nacionalidade togolesa a um dos membros da Unita. Este membro da Unita era Pedro Sachiambo Sakaita (Pepé) que é filho de Valdemar Chindondo, mas a quem Savimbi decidira, não se sabe por que razão, atribuir o apelido Sakaita.

Em paralelo com estes acontecimentos, Jonas Malheiro Savimbi afeiçoava-se a uma outra mulher, cujo desfecho foi o mais trágico de sempre e marcou, pela negativa, a história da Unita e beliscou, como nunca, a sua imagem. E não é de descurar a hipótese de a recusa de JMS a um exílio dourado, também esteja condicionada aos acontecimentos que andaram à volta desta mulher. De nome Ana Paulino, natural de Kachiungo, província do Huambo, era uma jovem elegante, linda e inteligente que através de uma bolsa patrocinada pelos serviços secretos franceses, tirou, em Paris, um curso de Secretariado. Ana era noiva de Tito Chingunji.

 De regresso a Jamba, Jonas Savimbi viria a arrebatá-la da forma mais insensata,  desafiadora e altiva. Ao arrepio dos tormentos de Tito Chingunji, JMS  converteu Ana Paulino na primeira-dama com a qual passou a ser vista nas capitais da América e da Europa. Da relação entre Jonas Savimbi e Ana Paulino nascerem cinco filhos que vivem quase todos na França. Um deles é  Dório de Rolão Preto Sakatu Sakaita, com o qual Savimbi nutria uma grande devoção e confidenciou, via satélite,  na véspera da sua morte. Se Jonas Malheiro Savimbi nunca veio a ter problemas políticos com os filhos nascidos desta relação, o mesmo não sucedeu com as suas cunhadas, sobrinhas de Ana Paulino Savimbi. A primeira foi Raquel Matos, que, aquando da ida de Ana Paulino (tia), à França, Savimbi amigou-se com ela e, mais tarde libertou-a, enviando-a para Londres a fim de fazer um curso superior. Raquel Matos é, nada mais nada menos que Romy, a esposa de Tito Chingunji, que acabaria por morrer com ele, muito mais tarde, nos anos 90. Pelo sim e pelo não, as peripécias à volta dos familiares de Ana Paulino não  terminaram por aí. Depois da relação com Raquel Matos, JMS estabelece uma nova relação com outra sobrinha de Ana Paulino, Navimibi Matos, com a qual teve uma filha,  Celita Navimibi Sakaita. Navimbi Matos acabaria por morrer em 1981, queimada viva, num dia em que Savimbi dizia que ficaria na história da Unita como o “Setembro Vermelho”, mas que condicionou sobremaneira a imagem da própria Unita, ou seja, a queima das bruxas.

 Como não há duas sem três, Jonas Savimbi viria, numa fase em que a idade, o cansaço da guerra, e as frustrações o afectavam, sobretudo as suas faculdades mentais, a atirar-se a uma outra sobrinha de Ana Paulino Savimbi, Sandra Kalufelo (com a qual teve um filho, Muangai), na altura, uma simples adolescente. O mais caricato foi que Jonas Savimbi, algo impensável no passado, chegou a atribuir a Sandra  alguns poderes financeiros e mesmo militares. E seria esta Sandra que mais tarde, ao criar uma série de intrigas, acabaria por influenciá-lo na morte da tia, Ana Paulino Savimbi. Recorde-se que esta foi enterrada viva numa toca de animais, logo depois da perda do Bailundo e do Andulo, por JMS também recear que viesse a ser capturada pelas tropas das FAA.

        Outras mulheres não menos importantes para Jonas Malheiro Savimbi foram: Catarina Massanga (Mãe Catarina) que vive actualmente em Luanda no Projecto Nova Vida. De etnia Chokwe, e natural do Moxico, granjeia até ao momento um grande respeito por parte dos  membros dessa organização política  que a consideram uma mulher de grande dignidade. Catarina Massanga teve um filho com Jonas Savimbi, Rafael Massanga Sakaita Savimbi, que passou pela França, Costa de Marfim e Gana onde acabou por formar-se em Gestão e Administração de Empresas. Constou na proposta, das últimas legislativas, de deputados da Unita ao parlamento angolano e ainda é visto por alguns como uma promessa para a futura liderança política da Unita. Outra mulher é Valentina Seke, provavelmente a menos falada, mas que ficou conhecida por ter estado com Jonas Savimbi no dia da sua morte, ter sido ferida e vista na Televisão subnutrida e aos prantos aquando do funeral do marido.

            Foram esses os caminhos porque passaram essas mulheres que tiveram que suportar o insuportável, quer para salvarem as suas vidas, quer para viverem as glórias de serem mulheres de um líder, quer ainda por pensarem que agindo assim estariam provavelmente a lutar contra o espectro  da solidão feminina.

 

Nota: outras mulheres de Jonas Savimbi:

  1. Esposas: a) Catarina Natcheya, é a viúva mais velha de Jonas Savimbi e tem relações de parentesco (irmã) com Toya Chivukuvuku; b)Cândida Gato, também irmã de Toya Chivukuvuku, foi esposa de Beto Gato, irmão de Lukamba, que teve de se refugiar nos Estados Unidos da América ao notar a aproximação de JMS à sua esposa. Tem uma filha com Jonas Savimbi e, mesmo depois da morte de Beto Gato, ainda continua a viver nos Estados Unidos da América; c) Teresa, a “escurinha”; d) Alzira (mestiça de Calulo);

Amantes: a) Domingas Pedro (irmã do general Kalias Pedro, vive actualmente em Portugal onde está casada com um S. Tomense); b) Olinda Kulanda, ex-locutora da Worgan, morreu no Bailundo em 1998, envolta  num grande misticismo; c) Etelvina Vasconcelos (reside actualmente na Suíça depois de passar pela Costa do Marfim, na qualidade de estudante); d) Lúcia Wandy Lutukuta (foi militar da Unita); e) Mizinha Chipongue, trabalhou no protocolo da presidência; f) Chica; foi oficial da Brinde com a patente de Major; g) Elsa Matias (uma jovem da Jamba); h) Kwayela Moreira (mestiça, estudante na Jamba); i) Maria Ekulika (funcionária do protocolo, apareceu morta de modo estranho); j) Joana (foi morta por ter transmitido a JMS uma doença sexualmente transmissível; l) Eunice Sapassa, acusada de feitiçaria, foi morta no processo “Setembro Vermelho” ou “Queima das Bruxas”; m) Tina Brito, uma mestiça para quem JMS tinha uma afeição muito grande, mas que acabou por ser morta por fuzilamento por se ter recusado em provocar um aborto. Note-se que JMS não queria filhos mestiços; n) Gina Kassanje, morta por ciúmes; o) Cândida (morta por ter enviado uma carta de amor  interceptada pela Brinde; o) Sessa Puna, ex-esposa de Miguel Nzau Puna. Acabaria por ser morta por ter servido de intermediária entre Cândida e o referido amante, p) Aurora (acabaria por ser abandonada depois de ter sobrevivido por na,alltura, não passar de uma adolescente e ser demasiado bela, a uma acusação de feitiçaria, vive agora em Luanda; q) Edna Álvaro (amigou-se com Savimbi, logo após as eleições de 1992 e viveu com JMS no Bailundo e Andulo, do qual teve um filho).

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