Manuel de Santos Lima, nasceu na província do Bié, cidade do Kuito (ex- Silva-Porto) a 28 de Janeiro de 1935.Fez os estudo secundários nesta província e na cidade de Luanda, para anos mais tarde licenciar-se em Direito pela Universidade de Lisboa e doutorar-se em Letras pela Universidade de Lausanne, na Suiça.
Manuel de Santos Lima teve um percurso de vida que muito o influenciou na sua escrita. Foi membro activo da Casa dos Estudantes do Império e mais tarde foi mobilizado pelo exército colonial português do qual viria a desertar e ingressar no MPLA onde foi fundador e primeiro Comandante-chefe do Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA, a base da FAPLA - Forças Armadas Populares de Libertação de Angola).
Personalidade com um grande espírito crítico, como se viu mais recentemente, ao demitir-se do cargo de Reitor da Universidade Lusíada, tornou-se, logo após a independência nacional, um sério opositor ao regime instalado em Angola, denunciando os excessos e abusos do mesmo. Na abertura do país à democracia, interveio na vida política nacional com uma força política (MUDAR) que, no entanto, não teve continuidade.
Manuel dos Santos é um dos mais destacados intelectuais angolanos do período pós-independência, infelizmente mais conhecido no exterior do país. Foi docente universitário em Portugal, Canadá e França. Como escritor, foi representante de Angola no 1.º Congresso Internacional dos Escritores e Artistas Negros, em Paris (em 1956), e no Congresso Afro-Asiático de Escritores, no Cairo (1962). Colaborou na Mensagem (CEI) e em vários jornais e revistas estrangeiros. As suas principais obras publicadas são Kissange (1961), As Sementes da Liberdade (1965), As Lágrimas ao Vento (1975), Os Anões e os Mendigos (1984). Os seus primeiros livros retratam o período de guerra colonial, demonstrando a luta pela libertação de Angola. Enfim, trata-se de um poeta, dramaturgo e romancista cuja escrita está enraizada na luta pela libertação de Angola do colonialismo Português.
Alguns Poemas
O tractor
Somos um povo que olha a terra
a menos de um metro do chão,
rins quebrados
peito fremente.
Somos um povo semeador
de pés magoados
entre raízes e suor.
O nosso pai deixou-nos uma enxada
e um pedaço de terra favorecida.
Para a cultivar
o meu irmão pôs-se a sonhar
com um tractor.
Do estrangeiro, prontamente,
lhe enviaram um estranho tractor.
Tantas rodas
tão grande motor!
O tractor do meu irmão
tem na frente um canhão.
Tange, tange kissange
ele absorto
ela magoada.
E o sonho morto.
Toda a memória não é nada
para tantos desenganados
na larga factura dos anos!
E a mente tão cheia
de tanta terra alheia!
Tange, tange kissange
recordar não cansa
chorar não consola
nem os descansa
de pensar em Angola.
Dois meninos sentados
um terceiro de pé
todos irmanados
na orfandade de um pé.
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