Alda Lara

Alda Lara

Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em Benguela a 9 de Junho de 1930. Concluiu, em Lisboa, o 7.º ano do Liceu e licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, depois de ter passado pela Universidade de Lisboa. Alda teve uma vida muito curta o que leva a pensar a qualquer crítico literário no que  seria a sua obra se a morte não a ceifasse assim tão cedo. Faleceu em Cambambe a 30 de Janeiro de 1962 com apenas 32 anos de idade.

Nos tempos de estudante, Alda Lara teve uma vida cultural muito intensa e activa. Assim, na qualidade de declamadora, participava nas actividades da Casa dos Estudantes do Império, o que lhes fez ganhar uma grande notoriedade. É de referir que, apesar de grande parte da sua poesia, reflectir uma insatisfação face ao status quo colonial, logo após a sua morte, a Câmara Municipal de Sá-da-Bandeira (actual Lubango) chegou a instituir o prémio Alda Lara para a poesia.

Da sua obra, destacam-se os seguintes trabalhos: Poemas, 1966, Sá de Bandeira, Publicações Embondeiro; Poesia, 1979, Luanda, União dos Escritores Angolanos; Poemas, 1984, Porto, Vertente Ltda. (poemas completos).

 

Alda Lara Poemas

 

 

Alguns poemas de Alda Lara

 

Testamento

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

Prelúdio

Prelúdio

Pela estrada desce a noite

Mãe-Negra, desce com ela...

 

Nem buganvílias vermelhas,

nem vestidinhos de folhos,

nem brincadeiras de guizos,

nas suas mãos apertadas.

 

Só duas lágrimas grossas,

em duas faces cansadas.

 

Mãe-Negra tem voz de vento,

voz de silêncio batendo

nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite, descendo,

de mansinho, pela estrada...

 

Que é feito desses meninos

que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos

que ela ajudou a criar?...

Quem ouve agora as histórias

que costumava contar?...

 

Mãe-Negra não sabe nada...

Mas ai de quem sabe tudo,

como eu sei tudo

Mãe-Negra!...

 

É que os meninos cresceram,

e esqueceram

as histórias

que costumavas contar...

Muitos partiram pra longe,

quem sabe se hão-de voltar!...

 

Só tu ficaste esperando,

mãos cruzadas no regaço,

bem quieta bem calada.

 

É a tua a voz deste vento,

desta saudade descendo,

de mansinho pela estrada...

Etiquetas

Também pode comentar desde o Facebook