Cikakata Mbalundu nasceu na aldeia de Chilume, Município do Bailundo, província do Huambo, no dia 28 de Janeiro de 1955. Fez os estudos primários e o Ciclo Preparatório no Bailundo, tendo-se, posteriormente, transferido para a cidade do Huambo (ex-Nova Lisboa) onde concluiu o 7º ano do Liceu. Logo após a independência estabeleceu residência na cidade do Lubango onde, em 1977, se matriculou na Faculdade de Letras no curso de Filologia Germânicas e trabalhou como professor de Língua Portuguesa. Esteve, nessa qualidade e durante os anos 1978 e 1980 em Cuba, na Ilha da Juventude. De regresso a Angola, e com a criação do Instituto Superior de Ciências da Educação da Universidade Agostinho Neto, ingressou no curso de Psicologia, vindo a licenciar-se nesta área. Concluiu o Doutoramento na Universidade do Minho, Portugal, em Psicologia Educacional, encontrando-se actualmente na cidade do Lubango com a família, onde exerce a função de docente e de investigador no Instituto Superior de Ciências da Educação. ','
No que diz respeito à actividade literária foi uma personalidade muito activa na década dos anos 80. Membro fundador da Brigada Jovem de Literatura da Huíla e de Angola, foi o responsável pelo caderno "Hexágono". Também fez parte da tendência literária surgida, em Angola, nos anos 80, o "Ohandanji". Tem participação dispersa pelo Jornal de Angola e em conferências sobre literatura Angolana a nível nacional, e não só.
Publicou os seguintes livros: Cipembúwa (1986), com o qual ganhou a menção honrosa no concurso Sonangol de Literatura, em 1986; O Feitiço da Rama de Abóbora (1996), com o qual ganhou o 1.º Prémio Sonangol de Literatura, em 1991; e Entre a Morte e a Luz (2002).
As obras de Cikakata Mbalundu são um casamento harmonioso entre a literatura da América Latina e Africana. Note-se que Cikakata teve contacto com autores da América Latina (Alejo Carpentier, Garcia Marques e outros) aquando da sua estadia em Cuba. Quanto a autores africanos sofreu a influência de escritores como Chiuna Achebe, Ngugi Wa Thiogo, Cyprian Ekwensi, Amos Tutuola e Castro Soromenho (angolano), apenas para citar alguns.
Os seus livros distribuem-se entre os efeitos psicológicos e culturais da guerra sobre as populações do centro de Angola, sobretudo os camponeses do mundo rural, e à procura das raízes culturais e da identidade dos angolanos, subvertidas pelo colonialismo.
Excerto do Romance " O Feitiço da Rama de Abóbora"
" A minha vida modificou-se radicalmente a partir do dia em que me foi posto o feitiço da rama de abóbora. Quando me aproximo das pessoas, elas afastam-se. No mercado, os vendedores ambulantes deixam de regatear e, para cúmulo do desespero, escondem os seus produtos nos sacos. Os meus amigos das longas noites de chocalho e de tantã, olham-me com grande comiseração. Tal acontece apenas com os rapazes, uma vez que as raparigas reagem como se estivessem perante uma alma de outro mundo. Ao verem-me, fogem desordenadamente.
Acho que todos se esquivam de mim. Foi por essa razão que decidi, a partir de ontem, não conversar com eles. De facto, ante tais amigos, se é que posso chamar-lhes de amigos, que devo fazer? Só me resta ficar sozinho e, de vez em quando, contentar-me com as atenções esporádicas dos meus pais, que são, na verdade, um alento. Não minto. Lamento que eles o façam apenas por compaixão.
Para dar valimento àquela decisão, passo dos dias sentado, durante horas sem conta, no tronco de uma mulemba seca. Somente o descer da noite, secundado pelo murmúrio da brisa, me recorda a hora do retiro. Não há, na vida, nada mais desolador do que a solidão e a luta para preencher os instantes, sempre fugazes, do dia-a-dia. No entanto, nada posso fazer porque a não ser assim teria, sem sombra para dúvidas, de me expor ao escárnio das pessoas.
Apercebo-me, transcorrido muito tempo, de que, mesmo em casa, tudo também se alterou. Não foi difícil dar-me conta que os meus pais mostravam ares que mais tarde foram adquirindo outra faceta. Para maior desgosto e desolação, deixei de comer com eles. Tomo as refeições depois de todos saciarem a sua fome. O pior é que fui privado do colchão de palha de bananeira; palha recolhida por mão própria."
Excerto do Romance " Entre a Morte e a Luz"
Regressei a Nguendo volvidos muitos anos. Pensava-se, na altura, que a guerra havia terminado de uma vez por todas. Trazia às costas uma mochila com vestuário e acessório de higiene.
Decorria o mês de Julho. A aldeia cobria-se, quase por completo, com a cinza das queimadas levada pelo vento frio e seco que soprava das montanhas.
Passei por um trilho, à esquerda das trincheiras que separavam a aldeia do rio. Não havia árvores e mesmo o capim era reduzido. Assim que avançava para chegar às nossas propriedades, notei que o meu coração palpitava. Inclusivamente, não pude evitar que as lágrimas me deslizassem pelo rosto. Não chorava por me terem vindo à memória, imagens das quais nunca me libertei: meus pais mortos algures na floresta e cobertos com a areia levantada pelo vento.
A angústia causada pela perda deles fora expurgada pelo tempo. Assim, o que mais me afligiu naquele momento foi o silêncio que pairava nas redondezas, e o modo como os eucaliptos e os pinheiros - uma das razões da existência de meu pai - haviam sido varridos. Também me chocou o aspecto desventrado da nossa casa: o tecto metido para dentro, as janelas e as portas escancaradas"
Os "monstros"(sulanos) da nova geração de escritores angolanos; Luís Kanjimbo, Cikakata Mbalundu, a confrenciar; Jorge Arrimar e José Eduardo Agualusa.
Recessões criticas e comentários das obras nos seguintes links:
http://www.minhasimagens.org/convidados/tomas/tchikakatosbalundu.htm
http://www.ceiba.cat/Jornades10_AnaLuciaSa.pdf
http://www.cpires.com/chinganji.html
http://www.uea-angola.org/bioquem.cfm?ID=157
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