Como curar um fanático? É a pergunta que faz Amos Oz no seu livro “Contra o Fanatismo”. Um livro tipicamente de bolso, poucas páginas, leitura rápida, mas munido de alguma verdade importante. O fanatismo tem cura!
Nas próximas linhas, não pretendo revelar a cura ao fanatismo, mas fazer uma simetria entre a obra do senhor Oz e a realidade vivida em Angola. Através desta reflexão que uma vez seja enveredada pelo povo angolano, talvez muitos problemas possam ser evitados no futuro.
Amos Oz é um escritor israelita internacionalmente conhecido, sendo ao mesmo tempo credenciado. Tendo sido já galardoado com alguns prémios importantes. Tal como o prémio Israel de Literatura 1998, ou mesmo o Príncipe das Astúrias das Letras de 2007, contando também no seu currículo o facto de pertencer ao movimento pró-paz de Israel.
As semelhanças entre a realidade descrita por Amo Oz e a vivida em Angola começam na possível causa do conflito israelo-palestino. Mas tal causa é matéria suficiente para outro artigo, portanto permitam debruçar-me numa realidade: O fanatismo é mais antigo que o próprio país, Angola! O fanatismo é mais antigo que a etnia que continua a procurar humilhar as outras. Não pretendo com estas palavras acusar, mas criar uma ferramenta mais de reflexão. O fanatismo que te move a chamar de “os sulanos” a todos os que falam umbundu, ou sejam do Sul de Angola, ou de “langa” aos Bakongo é mais antigo que tu! É de cronologia Bíblica! E precisas de te tratar!
Mas o fanatismo não se vê só nos “fanáticos declarados”, ele surge também “com modais mais silenciosos, mais civilizados. Está presente no nosso entorno e talvez dentro de nós mesmos. A semente do fanatismo sempre brota ao adoptar uma atitude de superioridade moral que impede chegar a um acordo.” E isto às vezes acontece por falta de imaginação que possivelmente “injectando-a em alguns, os ajudemos a reduzir o fanático que levam em si. Não é um remédio rápido, não é uma cura rápida, mas pode ajudar” e é urgente.
Outra característica que falta ao fanático angolano é o sentido de humor. Para Oz “o sentido de humor é um grande remédio” e tal como ele, eu “nunca vi um fanático” angolano “com sentido de humor.” De facto, esta é uma arma que Obama usa e muito bem. Por mais sério que fosse, nunca vi um discurso seu que não tivesse algum momento de humor. “Ter sentido de humor implica habilidade para rir-se de si mesmo. É relativismo, é a habilidade de ver-se a si mesmo como os outros te vêm, de reparar que por mais razão que eu possa sentir ter e por muito enganados que estejam os outros sobre mim, há um certo aspecto do assunto que sempre tem a sua gota de graça.”
O fanatismo angolano, a meu ver, rege-se pela “conformidade e uniformidade” alimentando-se no enorme desejo de mudar o próximo. Será possível? O fanático angolano não é egoísta como muitos dizem. Ele é altruísta!! Afinal de contas “ele está mais interessado nos outros que nele mesmo. E quer converter o outro naquilo que ele crê, e talvez mais complicado, naquilo que ele é”. Vivendo uma matemática básica em que “só pode contar até um, já que dois é um número demasiado grande para ele ou ela”.
O fanatismo é super contagioso e “pode-se contrair fanatismo facilmente, inclusivamente ao tentar vencê-lo ou combatê-lo”. Portanto, apenas me resta fazer uma pequena reflexão do que pode acontecer caso o fanatismo angolano não seja urgentemente eliminado.
Havia um cantor português que cantava que “quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”. Pois bem, seria de louvar que a cabeça angolana começasse a praticar um pouco de juízo e a esforçar-se, pelo menos, a ter um pouco de sentido de humor. Já sei que isso envolve um esforço enorme, mas é a vida. Há que usar a cabeça. E isso porquê? Basicamente, porque o corpo não está habituado a ter autonomia, nem de ideias, nem de pensamentos, nem de acções. Sendo o fanatismo tão contagiante, o corpo angolano já está infectado! E se atrás fiz referência a um conflito adormecido, não foi certamente porque queria incitar a algum tipo de violência. São os possíveis resultados de uma política em que a própria cabeça descrimina e humilha diferentes partes do corpo.
Já foi dito mais de que uma vez que, por casualidade ou não, as etnias mais representadas no mapa angolano, têm um partido político que as representa. Seria mais interessante, para uma sociedade que pretenda evoluir, que o MPLA se aproximasse das etnias restantes através dos partidos que representam as mesmas. Em alternativa, naturalmente, ao combate para fazê-las desaparecer. Tal como aconteceu nas eleições de Setembro passado.
Possivelmente, a frase mais sábia do pequeno livro de Amos é “Faz a Paz e não o amor”. Já sei que muitos não estão de acordo com esta frase, mas o seu significado social é tremendamente importante e ignorado pelo MPLA. Muitos, dentro do partido, argumentam sem medidas, que têm os Ovimbundu, os Bakongo e outros grupos etno-linguísticos no seio do mesmo, mas isso não é mais que fazer o amor apenas para que o marido esteja tranquilo. Faço-me entender. Quando o fanático angolano decidir fazer a Paz, a relação amorosa aparecerá naturalmente, sem pressão. Fazer a paz passa por partilhar o poder a nível legislativo, estender as mãos aos partidos existentes, não converter os seus membros à sua religião. E assim, acabar com a rivalidade e a intolerância.
Felizmente ou infelizmente, dependendo do ponto de vista de cada um, a natureza tem a sua própria maneira de se auto-regular e reequilibrar. Já dizia o livro mais antigo do mundo “do pó vieste, ao pó irás”. Um dia José Eduardo não estará entre os vivos e se até lá esse fanatismo não desaparecer, algo despertará e não será certamente o amanhecer.
Bibliografia
Oz, Amos. Contra el Fanatismo. Madrid: Ediciones Siruela, 2007.
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