Raul David

Raul David

Raul David nasceu a 23 de Abril de 1918, em Benguela, na cidade da Ganda, onde fez os seus estudos primários e passou toda a sua infância o que lhe permitiu ter um contacto muito próximo com os Hanya (grupo Ovimbundu da região da Ganda que possui características muito próprias). Raul David frequentou o  ensino secundário seminário Católico de Ngalangi, província do Huambo. O escritor Raúl que veio a falecer em 2005, com cerca de 87 anos de idade, contrariamente à grande parte dos escritores angolanos iniciou-se na actividade literária aos 45 anos tendo-se  tornado notável  apenas aos 57 anos no alvorecer da independência nacional. De entre as suas várias obras temos a destacar as seguintes: Colonos e Colonizadores (1974), Escamoteados na Lei (1987); Cantares do nosso Povo; Narrativas ao Acaso (1988), Ekaluko lya kwafeka (1988) Crónicas de Ontem para ouvir e contar (1989), Da Justiça Tradicional nos Umbundos (ensaio) (1997).Um outro aspecto que diferencia, no sentido positivo, Raúl David de grande parte dos escritores angolanos, salvaguardando-se as devidas excepções, é a agilidade com que navegava entre a língua africana (Umbundu) e a Língua Portuguesa. Muito se poderá dizer de Raul David, no entanto, a marca que se lhe reconhece na literatura angolana é o facto de se ter imposto da narrativa - testemunho, com forte inspiração na tradição oral dos Hanya. Raul David foi  agraciado com um prémio Menção Honrosa pelo Instituto Camões.

 

Raul David Colonizados

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  A águia e o Candimba

Extracto (in contos tradicionais da nossa terra,1979)

  Conta a lenda que, em tempos idos, lá muito alto, quase perto das nuvens, a Águia via sempre o Candimba a trabalhar, em terra, de roda da sua casa, num vaivém constante.

      Para poder ver de perto o trabalho do Candimba, resolveu visitá-lo um dia e depois de poisar à sua porta, saudou-o e meteu conversa dessa maneira:

     - Hum!... ando a cortar lenha para me defender do frio minha amiga, respondeu o Candimba. É por isso que me vês com este machado nas mãos.

      - E a propósito de machado; o cabo do meu está partido. Não me emprestas o teu, Candimba?

- Emprestar, emprestava; mas como é isso possível se tu moras tão longe, lá no alto? Como e onde te irei procurar?

      - Sossega quanto a isso; porque logo que esteja servida virei cá trazê-lo.

       O Candimba perante a promessa da Águia concordou, embora de má vontade. Entretanto, o tempo foi passando e a águia nunca mais apareceu com o machado que pedira emprestado.

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