Isilda, chamemos-lhe assim, é uma rapariga de 23 anos. Terminou muito recentemente a licenciatura em Gestão pela Universidade Privada de Angola. Depois da defesa da dissertação, versada sobre o mercado de capitais angolanos, candidatou-se, aceitando a sugestão de uma amiga, a uma vaga no Banco BIC.
Fez o que lhe pareceu ser o mais indicado: foi, na véspera, ao salão de beleza mais conceituado do bairro, comprou roupa à maneira com os sapatos altos a condizerem com o vestido apertado. ','
Ao chegar ao Banco, no dia seguinte, deparou-se com uma fila enorme de candidatos. Assim que aguardava pela sua vez, nervosa, olhava para os moços já despachados. Deixavam o gabinete da entrevista um a um: uns saíam com o rosto vincado, outros com um meio sorriso, provavelmente com uma pequena esperança, e outros ainda mais confiantes.
Quando chegou a sua vez, entrou, deparando-se com dois senhores simpáticos e muito elegantes, que a olhavam sem qualquer sorriso amarelo. Apresentou-se e, quando se preparava para afinar o português - não fosse o sotaque trair-lhe -, surpresa, não acreditou no que lhe diziam: estava admitida; e mais: era convidada para uma grande festa no local e data conforme o convite que lhe estendiam. Aceitou de imediato embora o móbil da festa não fosse muito claro. Muito bem, disse aos seus botões, se a empresa, a que nos candidatamos, nos admite sem mais nem menos e, se além disso, nos convida para uma festa que deve ser de arromba, das duas uma: ou navegamos numa maré de sorte ou, então, o que é paradoxal, os critérios de admissão do pessoal devem ter-se alterado substancialmente por estas paragens. E nada de fazer desfeita, para não pôr em perigo o emprego tão almejado e tão facilmente conseguido.
Sábado, desmarcou o encontro com o noivo, tomou um banho demorado, colocou creme por toda a sua pele, perfumou-se e pôs um vestido em tons de azul claro, preso com uma tira ao pescoço e que se ajustava a cada curva do seu corpo, evidenciando as suas formas. Completou com umas sandálias de tiras azuis, de salto ligeiramente alto. Agarrou na mala e partiu um pouco cedo não fossem os engarrafamentos tecerem das suas.
O local estava muito concorrido. Era uma grande vivenda com um enorme jardim no seu interior e uma piscina empoçada no centro. Os rostos eram, na sua maioria, desconhecidos, à excepção de algumas ex-misses e as poucas figuras públicas que ali estavam.
Isilda, perguntou-se a si própria se essas mulheres jovens nos seus vestidos esplêndidos, não teriam também compromissos como o seu, que se casaria dentro de um mês. Ou seria que estariam também ali a lutarem por um emprego, orgulhando-se apenas do seu porte e beleza e nada sobre o que tinham nas cabecinhas.
Já passava da meia noite quando o anfitrião da festa se dirigiu a ela. De seguida, foi um jogo de gato e rato, de avanços e recuos, de mais e menos sorrisos. Enfim, de excessiva sedução e de promessas com o emprego, o sucesso e a especialização como pano de fundo.
Já em casa, o domingo já ia alto quando despertou ao som bip do móvel. Levantou-se sonolenta para o atender e, tal qual numa sequência cinematográfica, desbobinaram-se na sua mente as cenas da noite anterior. Oh, meu Deus, exclamou, é o meu noivo. E ontem, que vergonha, comportei-me como uma prostituta.
Todas as semelhanças entre esta história e a realidade são bem mais do que meras coincidências. Na verdade, ela baseia-se em factos verídicos ocorridos em várias instituições angolanas, com maior frequência nos bancos privados onde se destacam o BFA e BIC. Salvaguardando-se as devidas excepções apenas inventámos alguns pormenores. A personagem também existe na vida real e tipifica o modelo mais recorrente de uma espécie discreta: a de jovens admitidas ao emprego mais pelos seus dotes físicos que intelectuais. Não costuma ser referida com frequência pela imprensa, nem abordada pela sociedade. Não é algo capaz de rivalizar com outros acontecimentos, mas também não é uma espécie em vias de extinção, muito pelo contrário.
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